Cenários, tendências e oportunidades para quem pensa o consumo na Primavera-Verão 2018-2019

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“Falar sobre futuro é sempre um desafio”, foi assim que Patrícia Sant’Anna abriu a 11ª edição do Seminário de Tendências – Primavera Verão 2018-2019. O dia já iniciou com a tônica do que esperar das horas seguintes: futuro do corpo; futuro da mescla tecnologia e vestibilidade, soluções e significados. Pensar futuro não é adivinhação: há muitos pesquisadores envolvidos na interpretação desses dados.

Na plateia, muitos frequentadores assíduos de outras edições do Seminário já sabiam como seria o dia –  intenso e rico – tanto em trocas como em informações. Outros tantos estavam ávidos por dados, inspiração e direções para ajudar a orientar os próximos passos nas mais diversas atividades profissionais ligadas ao universo da moda.

Você só compra aquilo que entende.
Patrícia cita Baudelaire para explicar o quanto a moda empurra uma série de elementos estéticos que nos influenciam. Se eu não entendo o que está no mercado, eu não vou comprar. Os objetos, no mundo, são nossos pares, e a pesquisa de tendências mostra isso. Na América do Sul, por exemplo, a moda influencia o design de interiores, a arquitetura e o design automotivo.

Como usar a informação sobre tendência?
Bem longe de dar receitas prontas, o propósito da Tendere é fornecer informações relevantes sobre tendências, que são previsões nas áreas da economia (internacional e nacional), consumo e estilo. A recomendação da pesquisadora é que as empresas compartilhem as informações com suas equipes, somando esse novo conhecimento ao conhecimento interno sobre seu cliente final (B2C ou B2B), produto e mercado. Especial atenção deve ser dada a reconhecer quem é o cliente final – mesmo quando a empresa em questão é B2B – para que se possa decidir sobre a utilização das tendências dentro da estratégia competitiva. A combinação entre Cenário Futuro, Cultura de Consumo e Criação resulta em um produto muito mais competitivo no mercado.


Fidelidade de marca não existe mais. É necessário manter relacionamento para ser lembrado.
Mais uma vez Patrícia Sant´Anna é precisa em sua colocação. Antes de enveredar sobre os panoramas e cenários em mutação, o lembrete da pesquisadora veio em boa hora: certezas são móveis e não há garantia de fidelidade ou solidez de relacionamento dos consumidores para com as marcas. O relacionamento deve ser reencenado continuamente para que a marca seja lembrada.

Panorama econômico: mudanças já podem ser sentidas
A economia mundial cresceu 3,5% (PIB), segundo o FMI. O PIB do Brasil deverá crescer somente 0,2% no mesmo período, sendo a menor taxa de crescimento entre os países do BRICS. A boa nova é que o PIB global vai ficar mais descentralizado: até 2016, os países desenvolvidos retinham 66% do PIB global, enquanto que em 2020 essa taxa deve cair para 58%. 2018 ainda não será um ano fácil, será o primeiro da discreta retomada mundial.

Atlântico e Pacífico
Uma mudança econômica de altíssimo impacto é o deslocamento do eixo do capital global do Atlântico para o Pacífico. A Ásia-Pacífico já ultrapassou a Europa e deve superar a América do Norte como região mais rica do mundo até 2019. Ásia e Pacífico terão o maior crescimento da classe média no mundo, passando de 28% em 2009 para 66% em 2030, o que significa crescimento no consumo. Este dado é especialmente significativo, já que qualquer produto de design precisa da capacidade de compra da classe média. O deslocamento de eixo também afeta bastante a moda em diferentes níveis, tanto no processo produtivo, como no surgimento de um novo grande mercado comprador, nas referências criativas e na descentralização das capitais da moda (Paris, Londres, Milão/Florença e Nova Iorque). As capitais tradicionais continuarão sendo referência, mas dividirão espaço com outras capitais regionalizadas, dentro e fora da Europa, que despontam como fortes novas influenciadoras da moda.

Brasil em tímida retomada
No Brasil, o cenário começa a melhorar, apesar da crise política e moral no país que atrapalham o avanço na economia. Não voltaremos aos níveis de investimentos de 2008-2012, mas há um crescente que tende a ser sustentável. Nota-se que o consumo está mais controlado e cuidadoso. Três áreas crescerão mais do que a média: beleza e cuidados pessoais, cuidados com a casa (o que inclui decoração) e lifestyle consciente (alimentação saudável, compras no bairro, “faço tudo a pé”). Moda ainda cresce (5%), menos do que estava acostumada (7%). A decoração, por sua vez, deverá crescer 1,2%.

Wearables e moda
Heloísa Amado, fundadora da Wearables Brasil – Tecnologias Vestíveis, começou sua fala conceituando a tecnologia wearable como “sensores que são usados em uma peça de roupa ou em um acessório e possuem características que conectam este vestível a outros aparelhos ou à internet.” Inseridos no contexto de mundo digital, em que o debate é sobre indústria 4.0, Internet das Coisas, Inteligência Artificial, Realidade Aumentada, Sensores Eletrônicos, Visual Programming Software e Moda Cognitiva, os wearables têm sido estudados para diversos tipos de aplicação. Há projetos, por exemplo, de vestuário inteligente para saúde ocupacional, prática desportiva e segurança pessoal de crianças e idosos.

Heloísa Amado, fundadora da Wearables Brasil – Tecnologias Vestíveis

Uma das dificuldades de avanço no uso e escalabilidade de wearables é que os dispositivos precisam de bateria, como qualquer eletrônico. Já existem pesquisas com tecido eletrônico, baterias impressas ou costuradas em tecidos, além de baterias flexíveis, que esticam e são recarregáveis. Ainda são soluções que funcionam somente para produção em pequena escala.

Heloísa nos brindou com alguns cases, como a jaqueta inteligente de Levi’s e Google; Anina Net , ex-top model e empresária em moda wearable; hackaton da moda realizado pela C&A e startups desenvolvendo wearables para a segurança de crianças de 3 a 5 anos. Se ainda há muito a avançar em vestuário inteligente, a certeza é de que os wearables são uma tendência a se manter latente no radar da indústria da moda.

Corpo-Arte-Moda
A pesquisadora Vivian Berto nos convida a um passeio exploratório, em sua fala, sobre como a arte trata das questões do dia a dia de uma forma diferente. Ao questionar o que é o corpo, Vivian traz uma representação de um corpo não-convencional, lembrando a relação conflituosa que nossa cultura ocidental aplica a ele – na cultura judaico-cristã, o corpo é a casca de uma vida imersa em pecado. O corpo, pontua ela, também está fora do centro de decisão do indivíduo.

Vivian Berto, pesquisadora de história da arte

A arte contemporânea pensa sobre o corpo e nos faz refletir sobre ele – e com ele. Vivian apresenta uma série de obras que questionam a corporeidade do expectador (Teiji Furuhashi, Lovers), o sofrimento e trabalho de robôs (Hito Steyerl, Hell Yeah We Fuck Die), as deformações que a malhação ocasionou em nossa ideia de corpo (Mark Greif) e os corpos maquínicos (Alex Garland, Ex Machina), dentre outros.

A palestra terminou aberta, provocativa, deixando sementes para reflexões em todos os presentes: dada a nossa obsessão pelo controle de nosso corpo, como na utilização de wearables e aplicativos, seria possível dizer que o ser humano melhorará com as máquinas?

Os novos hábitos do consumidor brasileiro
Novos cenários implicam novos hábitos: Patrícia Sant’Anna revela o que mudou – e continuará mudando – no comportamento de consumo do brasileiro nos próximos anos. Trouxemos os principais destaques dessa palestra essencial:
– O consumidor brasileiro agora prioriza a economia e o pagamento de dívidas. O planejamento de gastos familiares e a educação financeira pessoal são novidades em seu cotidiano, revelando um crescimento da maturidade de consumo.
– As marcas premium são substituídas por outras que trazem o mesmo benefício, por preços menores. O premium torna-se mais acessível, mais facilitado – o que é uma ótima oportunidade para marcas mais baratas e que propõem valores justos.
– Para quem planeja programas de fidelidade, a grande novidade é a mudança de formato: o ganho deverá ser mais imediato, ao contrário dos programas tradicionais onde é necessário gastar durante longos períodos para se obter vantagens.
– As promoções são bem-vindas, mas em um formato inteligente e que faça sentido para o consumidor.
– O fair trade, cada vez mais comum, inspira o consumo consciente, o preço justo e relações ganha-ganha.
– A preocupação com a privacidade entra em cena: até onde nossos dados podem ir sem nossa consciência e consentimento?
– Identidade é moldada constantemente em uma série de testes.
– Fazer coisas à moda antiga é chique: ir às compras a pé, fazer a própria comida, trabalhar e morar no mesmo bairro.

Além do panorama geral de movimentação do consumo, a plateia conferiu achados e insights preciosos para os segmentos infantil, adolescente, gerações Alpha, Z, Y, X e Baby Boomers.

A metodologia Tendere de Pesquisa de Tendências
A Tendere é pioneira, no Brasil, na abordagem de curadoria via a formação de gosto, como postulada por Bourdieu. Se o consumo não termina na compra, é o gosto que influencia a compra de determinados itens e rejeita outras aquisições. Logo, é a partir dele que são construídas segmentações para as orientações de consumo.

Macro-gostos e tendências
A pesquisa apresentada identificou quatro grupos de macro-gostos para o Hemisfério Sul (os quais você pode conhecer em detalhes nesse post) e os relacionou às respectivas tendências que atingirão cada público nos próximos anos.

Nativos da cidade
A tendência para o macro-gosto Pop Tropical é a Nativos da Cidade, um “África Mix” cheio de referências étnicas. Opulência e riqueza; grafismos abstratos ricos em cores; modelagens, por vezes amplas, que valorizam o corpo; mix de estampas e trançados de todo tipo caracterizam essa tendência.

Personalidade Natural
Já a tendência para o macro-gosto Latino Urbano é a Personalidade Natural, hippie urbano com tecidos naturais em modelagens vintage, aquarelados e tons em branco, areia, terrosos, verdes equatoriais e ferrugens.

Renda-se ao Oriente
O macro-gosto Karioka encontra sua tendência no Renda-se ao Oriente, um universo delicado e refinado de têxteis e modelagens inovadoras na confluência do japonismo e das técnicas manuais brasileiras.

Futuro Imperfeito
A tendência para o macro-gosto Sofisticado é a Futuro Imperfeito, que abraça transparências, formas com amarrações e a filosofia “no waste”.

Texto extraído com autorização do blog da Tendere.

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