Essência da marca pode determinar sua longevidade

Recentemente a versão online da revista Elle publicou uma relação com as 5 marcas de moda mais antigas do mundo. Essa lista despertou em mim a seguinte questão: como essas marcas conseguem se manter tão atuais mesmo com tantos anos de existência?
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Dentre a relação de marcas, duas especialmente me chamaram mais atenção, por sempre estarem no centro dos holofotes das semanas de moda e da mídia de modo geral: a francesa Chanel e a italiana Prada. Ambas continuam como marcas de desejo e preferência no tapete vermelho dos principais eventos. Então, qual seria o segredo para esse sucesso atemporal e o que elas têm em comum?
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Além de terem origem na Europa, no berço da moda, as marcas continuam ativamente presentes no mercado e com suas imagens sólidas. Apesar de passarem por transformações ao longo dos anos, seja pela passagem de designers, ou mesmo para acompanhar a evolução do mercado, estas marcas mantêm seus princípios e suas imagens muito bem estruturadas na mente dos consumidores. Se revisitarmos a história, podemos notar que as identidades são mantidas coerentemente.
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A Chanel, ícone máximo na moda, completa, em 2016, 107 anos desde o nascimento das primeiras peças de Alta Costura e 38 anos desde a primeira coleção ready-to-wear. A marca é um exemplo sempre válido para ilustrarmos o sucesso de uma grife. O poder da imagem de Gabrielle Coco Chanel refletido em suas criações é tema a ser seguido, na minha opinião, por todas as empresas que buscam um posicionamento coeso e transgressor.
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Gabrielle Chanel foi uma mulher ambiciosa que não se contentava com os padrões da sociedade e reconhecia estar à frente de seu tempo. Através de suas criações, como as peças que eram até então exclusivas do vestuário masculino introduzidas no cotidiano das mulheres mais poderosas da sociedade e levando a uma movimentação cultural, Chanel fez história porque refletia a voz da mulher que desejava estar além dos estereótipos.
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Se olharmos para a sociedade atual, o tema continua latente e ainda mais forte, com novas reivindicações. Por isso Chanel é contemporânea, transgride a vestimenta e, hoje, se adequa à “mesma mulher” que anseia por igualdade e poder.
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Analisando através dos desfiles, é possível notar esta linearidade e consistência na comunicação, mesmo com as mudanças na direção criativa e evolução das peças.
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Desde 1978 a marca apresenta anualmente suas coleção ready-to-wear
Em 2014 o desfile foi ambientado num supermercado, refletindo a vida dessa mulher multitarefa e o estilo hight-low que permite misturar uma peça de luxo a uma de fast fashion.
Na temporada 2015, o desfile da marca apresentou uma temática de passeata feminista, nada mais atual e coerente com a marca.

A marca italiana dos irmãos Mario e Martino Prada (Fratelli Prada), tem 103 anos e também ganhou maior visibilidade mundial nos anos 70, quando Miuccia Prada tomou a frente da direção criativa e inovou a grife. A partir dos anos 80, a Prada consolidou sua identidade com um modelo de bolsa feita para mulheres cosmopolitas que buscavam praticidade em seus acessórios, mas não abriam mão do luxo. Tal identidade se mantém até os dias atuais, não apenas nos desfiles, mas também diante das estratégias adotadas pela empresa. Uma delas, a diversificação do portfólio, abrange a alta moda, acessórios, cosméticos e a criação da Miu Miu, segunda linha direcionada ao público mais jovem e com menor poder aquisitivo.

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A identidade mantida pela Prada mostra uma grife de “luxo despretensioso”, com linhas sóbrias e cores neutras quase minimalistas. A marca reflete a mulher naturalmente poderosa e não deixa esta imagem sucumbir ao longo dos anos.

Coleção 1988
Coleção 2001
Coleção 2016
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No comparativo entre estas marcas poderosas, podemos notar também que elas se consolidam como marcas de luxo. Isso significa que elas têm como característica principal a exclusividade e trabalho dedicado aos detalhes e altíssima qualidade. Geralmente, envolvem trabalhos artesanais e artísticos muito bem desenvolvidos. Para manter-se há mais de um século como ícones, além de obedecer a rigorosos padrões de qualidade e princípios de design, elas mantêm suas identidades e sustentam a mesma essência desde o nascimento.
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Visto estes exemplos, fica minha provocação para análise do mercado brasileiro: quantas marcas brasileiras perduram ao longo dos anos e posicionam-se como atemporais e sólidas? Obviamente o país é muito jovem e não tem a mesma cultura de moda europeia, mas a moda é um dos maiores indicadores da nossa economia e é preciso pensar na longevidade das marcas que estão nascendo com este crescente movimento.
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As empresas de moda brasileiras souberam adaptar-se muito bem aos conceitos de produção de moda atuais e já contam com grandes nomes líderes do varejo nacional. Mas, enquanto evoluímos com o fast fashion, quanto é possível valorizar a identidade das marcas, avançar com tecnologia, inovação e design criativo sem perder a essência? Quais os diferenciais reais das marcas brasileiras diante do mercado mundial?
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Algumas marcas nacionais destacam-se fora do país, mas por muitas vezes não são valorizadas internamente da mesma forma. Considerando as condições econômicas que colocam à prova a capacidade dos designers, é preciso criar, produzir e comunicar dentro de um cenário no qual o preço dos produtos é tão inflado através de uma enorme carga tributária que o valor real das peças acaba sendo desvalorizado. Sem entrar na temática das margens de lucro de algumas empresas…
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O desafio de criar uma marca sólida é pertinente à toda cadeia têxtil e envolve diversos profissionais, como o visual merchandising, mas, na minha opinião, é tarefa principalmente para os designers, que devem pensar em manter a atemporalidade e não apenas no consumo exacerbado. Estamos em um movimento tão acelerado que paramos de pensar de forma simples e de olhar para dentro para trazer a novidade através da essência natural das empresas.
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