A vitrina como arte efêmera

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Imagine um artista se dedicando horas, as vezes meses, na elaboração de uma obra de arte que vai durar apenas alguns dias, ou apenas algumas poucas horas, ou somente um instante. Isso é arte efêmera, da qual não restará nada, não poderá ser comercializada ou guardada em acervos, isso surpreende e fascina o espectador pela sua beleza e impermanência.
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Esta arte impermanente é manifestada em diversas formas e técnicas que vão dos tapetes religiosos de serragem, as esculturas de areia, gelo, instalações, performances e as vitrinas. Vitrinas sim! Afinal a confecção de uma vitrina envolve técnica, projeto e muita habilidade artística. E, depois de pronta, durará apenas alguns dias e será totalmente desfeita, cedendo espaço para uma nova expressão.
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Se pensarmos a vitrina sobre a ótica artística, ao invés de apenas comercial, veremos seu principal intuito, que é transportar o observador para outro mundo, com ludicidade, movimento e cores, despertando desejos através da fruição. Criando sentimentos no indivíduo em relação a obra que perdurarão para além do tempo de vida de uma exposição.
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As primeiras vitrinas só foram possíveis a partir de 1840, quando a indústria foi capaz de produzir vidraças de grandes proporções delimitando esse espaço de transição entre arte e comércio. Em 1900, em Viena, surgiram as primeiras escolas de vitrinistas e, como era de se imaginar, os alunos foram pintores, escultores e artistas.
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Na década de 1920 os artistas enxergaram na vitrina uma tela em branco, com uma infinidade de possibilidades para exprimir sua criatividade, fazendo com que sua obra fosse vista por muitos. Se pensarmos bem nada mais democrático do que as ruas dos centros das cidades para democratizar a arte. E, sobre isso, as vitrinas da loja de departamentos londrina Selfridges são, até hoje, ponto turístico por sua magnitude e inovação. Quando foram inauguradas, em 1909, tiveram status de exposição e as pessoas se amontoaram para observá-las.
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Fila para inauguração da Selfridges em 1909.

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Artistas consagrados como Salvador Dali tiveram seu momento vitrinista, com seu Surrealismo, de onde até hoje muitos profissionais buscam inspiração. Além dele Breton, Andy Warhol e Marcel Duchamp também produziram vitrinas fantásticas.

Salvador Dali e manequim nos braços.
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Além do Surrealismo, diversos outros movimentos artísticos influenciam o processo criativo das vitrinas até hoje como: Art Nouveau, Art Decó, Cubismo, Dadaísmo, Pop Art, Op Art, Minimalismo, Arte Conceitual e Arte Contemporânea.
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Não tão distante, em 2014 a Bienal de Arte Moderna de São Paulo, com o tema da impermanência, recebeu um enorme mural delicadamente pintado, o qual seria totalmente desfeito e repintado ao final da mostra. O efêmero, mais do que nunca, está no centro das atenções e o vitrinismo nasceu e
permanece até hoje vinculado ao trabalho artístico.
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Afinal, como afirma Sylvia Demetresco, “para entender melhor as vitrinas, que são obras efêmeras, é necessário prestar atenção também nas várias manifestações artísticas que estão bem próximas do pensar e montar vitrinas, como as instalações, os vídeos e os grafites” (DEMESTRECO, 2014, p.15). Pense nisso no seu próximo projeto de vitrina.
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