[O varejo d]A moda que vale bilhões

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Capa dessa edição quinzenal da revista Exame: bom momento para a moda no país.

A matéria de capa da última edição da revista Exame exibe o impactante título: “A moda que vale bilhões”, com um orgulhoso Alexandre Birman (da Arezzo) segurando um stiletto vermelho. A matéria vem confirmar o fato: brasileiro compra muita moda, e cada vez mais.

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Quando uma pessoa passa a ganhar mais e sobe de classe social, o consumo de moda (as roupas, o couro e calçados, as joias e as bijuterias) corresponde a uma fatia maior da renda. A própria matéria mostra os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística): as pessoas dobram seus gastos com moda a cada degrau que sobem nas classes sociais. Por exemplo, se alguém da classe D consome em média 40 reais com moda, a da classe C gasta 97. Com tantas pessoas subindo de classe social no Brasil, não pudemos ver nada além de uma explosão de consumo de moda condizente com sua nova posição na escala social.
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A matéria também aponta o consumo feminino. As mulheres são, historicamente, o grupo que mais se interessa e mais consome moda. Com sua entrada mais qualificada no mercado de trabalho, sobra mais dinheiro e independência para elas consumirem esse tipo de produto.
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O resultado é que, na última década (2003-2013), segundo a matéria, o mercado brasileiro de moda cresceu 287%, o maior crescimento do mundo, estando atrás dele a China (261%) e a Rússia (200%). Agora, planos de internacionalização – já bem empregados pela Apargatas, pela H.Stern e, é claro, pelas empresas do homem da capa, Birman (a saber, Arezzo, Schutz, Anacapri e Alexandre Birman) tentam colocar o Brasil no mapa da moda global, mas ainda de forma tímida.
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De um lado, o crescimento vertiginoso do mercado de moda alavancado pela estabilidade econômica, população com maior poder de compra e independência financeira das mulheres. De outro, uma indústria têxtil e confeccionista que amarga quedas em produção e geração de empregos há anos. O que está fora do lugar nessa balança?
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Alexandre Birman – infelizmente, a euforia em torno da moda deveria ser melhor: apenas uma parte a
rede é beneficiada pelo aumento vertiginoso do consumo. Foto: Exame
A indústria têxtil nacional reclama (com razão) da alta carga tributária e da competição desigual com produtos importados, principalmente da China, que tem preços com os quais é impossível competir. Do outro lado, somos pressionados pelo varejo para preços cada vez mais baixos, de forma a alimentar melhor o ciclo da moda rápida, instituído pelo fast fashion. Nessa situação, vemos que o que cresce não é necessariamente o mercado de moda como um todo, mas apenas uma ponta dele. Enquanto o varejo apenas expande, a indústria fica refém de uma competição dificílima.
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Empresas como a Hering e a Dudalina deixaram de produzir apenas para os varejistas e entraram elas mesmas no varejo, por não conseguirem, apenas como fabricantes, lidar com a competição com a China. As empresas que mais crescem aproveitando o boom do setor não fazem da indústria, mas são todas varejistas (ou combinam as duas atividades): a Renner (que teve crescimento em 2013 e espera um resultado tão positivo quanto para 2014), Riachuelo (que hoje fatura R$ 3,8 bilhões) ou a Dudalina (que quadruplicou a receita desde 2009). A própria Arezzo não possui fabricação própria – os acessórios são produzidos por 90 fabricas, entre parceiras e licenciadas.
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A preocupação com a concorrência externa, em especial de países como a China, ainda é mais latente no setor têxtil-confeccionista do que no coureiro-calçadista.
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Não se atentar ao processo anterior da rede de moda, além de limitar a geração de empregos, pode ter outras consequências econômicas e sociais. Primeiro, ficamos atrelados do velho problema de mão-de-obra da moda – em busca de produção rápida e preços baixos, o varejo pode contar com fornecedores duvidosos e financiar o trabalho escravo. Segundo, ficamos reféns da produção externa, das suas oscilações de fornecimento e de preços.
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O crescimento do poder aquisitivo do brasileiro, em especial dessa nova classe C, é uma grande oportunidade para o setor e as marcas que têm se beneficiado tanto quanto a Arezzo – e são projetadas de forma global – são sem dúvida uma vitória da moda nacional. Mas continuar negligenciando a indústria é uma atitude insensata e nociva. Se a parte anterior da rede de moda (a indústria) cai, o que garante, com a competição global, que o varejo continue crescendo por muito tempo?
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Texto cordialmente cedido por Patricia Sant’Anna e Vivian Berto da Tendere
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